por - Dâmaso Rocha.
A drástica redução, em todo o mundo, da quantidade desses insetos desperta preocupação porque, além da importância que têm para a biodiversidade, eles são responsáveis pela polinização que garante a existência de quase 40% dos alimentos consumidos por nós. As picadas dolorosas e o zunido insistente no ouvido fazem com que, geralmente, as abelhas não sejam lembradas de maneira amistosa - a despeito das delícias do mel. E com uma ressalva fundamental: o mel está longe de ser a grande contribuição das abelhas para a humanidade. Sem elas, metade das gôndolas de alimentos dos supermercados estaria vazia. Por meio da polinização, esses insetos promovem o seu maior impacto na biodiversidade e na produção dos alimentos: 35% das lavouras e 94% das plantas silvestres dependem dessa atividade.
A má notícia é que esse, por assim dizer, "serviço ecológico" está em risco diante de um fenômeno batizado de desordem do colapso das colônias. De 1940 até hoje, o número de abelhas diminuiu de forma drástica no mundo - nos Estados Unidos, o país mais afetado pelo problema, caiu pela metade. Ainda é misteriosa a razão por trás desse sumiço, apesar de existirem fortes hipóteses.
A ONU planeja chamar atenção para o assunto com a divulgação, em evento na Malásia, do relatório Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos. O documento, o primeiro fruto do órgão internacional Plataforma Intergovernamental para Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), procura identificar, entre outros pontos, os motivos que levaram à desordem que faz sumir as colônias e as possíveis soluções. Há indícios de que a redução no número de abelhas esteja se repetindo, em ritmo acelerado, em outros locais, incluindo países pobres.
No entanto, muitas vezes os dados coletados não são suficientes para corroborar a tese. É o caso do Brasil, que não conta com um histórico do número de abelhas em território nacional, de forma que os pesquisadores não têm como comparar o número atual com os anteriores. Assim, ficam sem saber se a redução é alarmante por aqui. "Mas há sinais de que também sofremos do mesmo mal", afirma a bióloga Tereza Cristina Giannini, do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável. "Em pesquisas de campo, descobrimos que existem regiões nas quais as plantações apresentam déficit de polinização, refletido na baixa produção de frutas, flores e alimentos", relata Tereza.
A favor do Brasil, contudo, pesa um ponto que nos deixa em posição de vantagem ante a desordem.
O país não é dependente de apenas uma espécie, como ocorre com os Estados Unidos e a Europa. Uma pesquisa da revista científica Apidologie, especializada em apicultura, estima a existência de pelo menos 250 tipos de polinizadores em todo o território brasileiro, dos quais 87% são de abelhas.
Seja sustentável, seja Brasil, seja VERDE!