Associação dos Espadeiros de Senhor do Bonfim firma acordo em Minas Gerais e dá passo decisivo para regulamentação da fabricação de espadas


A cidade de Santo Antônio do Monte, em Minas Gerais, reconhecida como o maior polo pirotécnico do Brasil, foi palco de um marco histórico para a cultura popular da Bahia. Nos dias 24 e 25 de abril, representantes da Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim (ACESB) estiveram no município mineiro para assinar um Termo de Cooperação Técnica com o Sindicato das Indústrias de Explosivos do Estado de Minas Gerais (SINDIEMG), entidade que reúne os maiores fabricantes de artefatos pirotécnicos do país.

Além de formalizar essa parceria técnica, a visita faz parte de um processo mais amplo que inclui a regulamentação da fabricação das espadas e a implantação de uma fábrica no município de Senhor do Bonfim, iniciativa que busca garantir segurança, legalidade, desenvolvimento econômico e geração de emprego e renda, a partir da tradição da Guerra de Espadas.

A comitiva da ACESB foi composta pelo presidente Alex Barbosa, pelos diretores Darlan Valverde e Rodrigo Wanderley Pezão, e pelo fogueteiro Reinaldo Joaquim. A visita consolida um trabalho iniciado em novembro do ano passado, quando foram estabelecidos os primeiros diálogos entre a ACESB e o SINDIEMG com o objetivo de construir uma parceria sólida, capaz de oferecer caminhos técnicos e legais para a regulamentação da fabricação das espadas, artefato central de uma das mais importantes expressões culturais das festas juninas do interior baiano.

O acordo marca um avanço concreto no processo de legalização da prática, que há anos enfrenta repressão por falta de regulamentação da produção do artefato. A partir dessa parceria, a ACESB passa a contar com a experiência técnica do SINDIEMG, sediado em uma cidade que é referência nacional e internacional na produção de pirotecnia, responsável por cerca de 98% da produção legal de fogos de artifício no Brasil.

Durante a visita, a comitiva da ACESB também esteve no Centro de Excelência em Pirotecnia do SENAI-MG, o único da América Latina voltado exclusivamente para o desenvolvimento, controle e certificação de artefatos pirotécnicos. Além disso, a equipe visitou algumas das maiores fábricas de fogos de artifício do Brasil, onde teve a oportunidade de conhecer de perto as rotinas produtivas, os rigorosos padrões de segurança e as exigências legais que regulam a fabricação no país.

Regulamentação como caminho para a legalização 

A Guerra de Espadas tem enfrentado crescentes restrições legais nos últimos anos, devido ao enquadramento do artefato não certificado, em desacordo com normas estaduais e federais. Essa interpretação jurídica resultou na intensificação de medidas de criminalização e repressão, como apreensões, prisões, abertura de inquéritos e responsabilizações penais, além da suspensão da lei municipal que reconhecia a prática como patrimônio cultural.

Diante desse cenário, a ACESB optou por seguir o único caminho possível para garantir a continuidade da tradição de forma segura e legal, começando pela regulamentação da fabricação das espadas. Para que o artefato possa ser reconhecido oficialmente, será necessário, primeiro, estruturar e regularizar uma fábrica específica, que atenda às exigências técnicas e de segurança previstas pela legislação nacional. O processo envolverá a realização de estudos de viabilidade, testes laboratoriais, a elaboração de dossiês técnicos, a definição de um modelo certificado e, posteriormente, a solicitação de autorização junto ao Exército Brasileiro, órgão responsável pelo controle de produtos pirotécnicos no país.

Potencial econômico e geração de emprego

Além do seu valor cultural, a regulamentação da fabricação das espadas pode abrir importantes perspectivas para o fortalecimento da economia regional. Atualmente, a produção ocorre de forma artesanal e em condições de informalidade. Com a criação de uma fábrica regulamentada em Senhor do Bonfim, será possível estruturar uma cadeia produtiva segura, gerar empregos diretos e indiretos, estimular o comércio relacionado aos festejos juninos.

A formalização desse processo representa um divisor de águas para a tradição da Guerra de Espadas. A implantação de um modelo de produção regulamentado permitirá atender às exigências legais, garantir maior segurança para a prática e consolidar a manifestação como patrimônio cultural e vetor de desenvolvimento econômico para o município e toda a região.

Próximos passos 

Após a visita a Santo Antônio do Monte, os representantes da ACESB seguem com um cronograma de ações que inclui o desenvolvimento do projeto de implantação de uma fábrica de espadas em Senhor do Bonfim, com o objetivo de estruturar uma cadeia produtiva legalizada que promova segurança, geração de empregos, fortalecimento da economia local e preservação da tradição cultural.

O projeto também contempla iniciativas em outras frentes. Em parceria com o Colegiado do Curso de História da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), a ACESB integra a Comissão Mista responsável por elaborar o processo de reconhecimento do São João de Senhor do Bonfim como patrimônio cultural imaterial. Simultaneamente, a entidade participa um Grupo de Trabalho com o Curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com foco na mitigação de riscos e impactos à saúde pública decorrentes da prática da Guerra de Espadas.

Com todas essas ações técnicas e institucionais, a ACESB seguirá promovendo o diálogo com o Governo do Estado da Bahia, Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores e Ministério Público, reafirmando seu compromisso com a legalidade, a segurança e a valorização da cultura popular nordestina.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL DOS ESPADEIROS DE SENHOR DO BONFIM

Postagem Anterior Próxima Postagem